Entre pontos, vírgulas, acentos, e novos acordos ortográficos, me pergunto: aonde está o erro? na escrita ou em nossos olhos? Não quero aqui justificar ou incentivar o desacordo linguístico com nossa gramática "culta", mais sim, provocar o questionamento sobre a beleza estereotipada das normas, em uma sociedade de culturas entrelaçadas, porém, denominadas de valores distintos.
Outro dia, ao fazer uma pesquisa em grupo sobre mensagens veiculadas na internet, me deparei com inúmeras frases populares em letreiros, placas e muros. À priori cai aos prantos e gargalhadas, pelos inúmeros erros gramaticais. Não obstante ao ato, os outros também começaram a rir, achando tudo aquilo, apesar de real, um absurdo em pleno século 21.
Frases como: "A palavra é prata, o cilêncio é ouro"; "Servimos suco natural, do pó do guaraná Á Flôr de Ziáco do Amazonas", imediatamente nos leva a pensar na comicidade de suas estruturas, porém, o que difere estas frases dos poemas Vício na fala, de Oswald de Andrade, e Samba do Arnesto, de Adoniran Barbosa, respectivamente?
"Para dizerem milho dizem mio... Para melhor dizem mió... Para pior pió... Para telha dizem teia... Para telhado dizem teiado... E vão fazendo telhados."
"O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás... Nós fumos não encontremos ninguém... Nós voltermos com uma baita de uma reiva."
(...)
Certamente, você diria o termo "Licença Poética", que nada mais é do que a permissão dada ao escritor para extrapolar a norma culta, deixando de lado regras gramaticais. E se levarmos em conta que a forma empírica das frases inicialmente descritas são colocadas de forma poética? A final, o que é culto e o que é coloquial?
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Temos é que colocar para fora, enxergar, e estimular, toda e qualquer, poesia oriunda de nossas entranhas: o chamado Epitáfio Visceral. Assim, ao invés de nos preocuparmos apenas com a léxica e ortografia, nos preocuparemos em pensar, sentir,..enxergar além do que a escrita culta nos apresenta.
Santos, Marcio. Licença Poética (Epitáfio Visceral), Piranhas-AL, 24 de Fevereiro de 2012.